Prefeitura Municipal de Matão

Cemitérios Municipais de Matão e São Lourenço do Turvo

História

Cemitério Municipal Extinto

          A inquietude incessante em busca de riquezas ou simplesmente a procura de uma vida melhor, sempre levaram homens e mulheres a aventurar-se pelo desconhecido procurando descobrir, conquistar e desbravar novos lugares. Assim com muita bravura, coragem e trabalho, surgiam os vilarejos. Com a formação de cada povoado, surgia também a necessidade de providenciar um lugar onde fossem sepultados os entes queridos dos familiares que ali residiam, pois no final do século XIX, inicio do século XX, os meios de locomoção eram bastante rudimentares, o transporte era realizado em lombo de animais, carroças e carros de bois, o que dificultava o translado de corpos para outras localidades mais distantes.

Nesse contexto, surgiu no ano de 1892, o arraial com a capela do Senhor Bom Jesus das Palmeiras, local que posteriormente em 25 de março de 1895, foi celebrada a primeira missa. Em maio do mesmo ano, o arraial tornou-se Distrito Policial por dois anos após e finalmente em 07 de maio de 1897, pela Lei nº 499 sancionada pelo então presidente do Estado de São Paulo, Dr. Manoel Ferraz de Campos Salles, o Arraial do Senhor Bom Jesus das Palmeiras tornou-se distrito de paz com o nome de Bom Jesus do Matão e em 27/08/1898 pela Lei nº567 foi elevado à Municipio com o nome de Matão.

Abaixo vemos a ata que é o primeiro documento antigo comprobatório da fundação do Arraial:

“Aos treze dias do mês de fevereiro de 1892, em casa do Coronel João de Almeida Leite Morais, às cinco horas da tarde, achando-se reunidos os abaixo assinados, foi convidado o Srº Dr. Américo Franklin de Menezes Dória para presidir e expor os fins da reunião, o qual convidou para seus secretários os cidadãos Theophilo Dias de Toledo e Leão Pio de Freitas. Aberta a sessão, o presidente mostrando as grandes vantagens que havia na criação de uma capela e cemitério, inicio de uma futura povoação no florescente bairro do Mattão, lembrou a eleição de uma diretoria e diversas comissões a fim de angariarem donativos para o fim acima indicado. Para a comissão diretora foram aclamados o Coronel João de Almeida Leite Moraes, Antonio da Silva Coelho, Antonio Machado de Campos Barros, José Bento Filho e tesoureiro o cidadão Theophilo Dias de Toledo. Para as outras comissões foram eleitos os senhores: Leão Pio de Freitas, Antonio Dutra da Costa e João Bellintani, como representantes do bairro denominado Mattão; Joaquim Correa de Freitas, Francisco Leandro de Abreu e José Martins de Lara, dos cocais de Dobrada; Jose Arruda Campos, Ismael da Silveira Leite e Joaquim Pio, da primeira Secção da Fazendinha; Gilberto Pedro Franco, Antonio Felizardo e Augusto dos Santos, da segunda secção da mesma sesmaria; Joaquim Martins de Lara, Carlos Batista de Magalhães, Francisco Lopes e Antonio Emiliano, da posse; Dr. Ernesto Augusto Malheiros e Antonio da Silva Prado, da Estiva; Avelino Pinto Ferraz, Dr. Julio Cesar de Morais, do Baguassu e João Schwench do Cambuhy, foi autorizada a comissão diretora a convidar todas as pessoas interessadas pela prosperidade e desenvolvimento do lugar, que estiverem em condições, a edificarem prédios nos terrenos concedidos no patrimônio da futura capela. Eu, secretário que a escrevi e a subscrevo: Theophilo Dias de Toledo, Dr. Américo Franklin de Menezes Dória, Leão Pio de Freitas, João de Almeida Leite Morais, Antonio Machado de Campos Barros, Antonio da Silva Coelho, José Bento Filho, Pe. Luciano F. Pacheco, Gilberto Pedro Franco, João Bellintani, Jorge Correa (por Herculano Correa da Silva e Joaquim Martins de Lara), João de Almeida Leite Morais e José de Arruda Campos”.

 

Podemos observar na ata que instituiu a formação do povoado que o cemitério era algo primordial e indispensável para aqueles idealizadores por motivos supra citados. A partir daquele momento, começaram as demarcações dos lotes residenciais, o local da capela e também o lugar destinado a ser cemitério. Não se sabe ao certo quando foi a data dos primeiros sepultamentos naquele cemitério, todavia documentos antigos comprovam que a partir daquele momento os sepultamentos poderiam ser realizados naquele local. A pesquisa abaixo, realizada pelo advogado Adail Pedro, apesar de ser um trabalho de grande relevância, não expressa o número exato de sepultamentos no extinto cemitério, pois o mesmo elaborou a lista de falecidos levando em consideração apenas os óbitos lavrados no Registro Civil de Matão a partir da data de 09 de setembro de 1897, momento em que foi instituído o cartório. Os óbitos ocorridos anteriormente a essa data, foram registrados no Cartório de Registro Civil de Araraquara-SP. O primeiro sepultamento que se tem conhecimento é datado do ano de 1895, sendo de Felippe Malzoni ocorrido em 10 de dezembro de 1895, e seus restos mortais foram transladados em 11 de abril de 1918 e encontra-se sepultado na sepultura nº 700 da quadra nº F-1 do atual cemitério. Não há registros nem relatos de ocorrência de sepultamentos naquele local anterior ao ano de 1895. Porém, acredita-se que pela religiosidade, pelos costumes da época e principalmente pela falta de transporte os primeiros sepultamentos tenham ocorrido logo após a data da celebração da primeira missa em 25 de março de 1895, ato litúrgico que abençoou o povoado, que hoje é Matão.

          O extinto cemitério funcionou plenamente até 30 de agosto de 1902, quando os sepultamentos passaram a ser realizados no cemitério atual. Sua extinção ocorreu em razão da chegada da epidemia de varíola no município, fato narrado no texto de introdução ao cemitério atual. Apesar de não haver mais sepultamentos naquele cemitério, a Prefeitura Municipal continuou mantendo o local sempre bem cuidado para que as pessoas pudessem continuar visitando os falecidos anteriormente ali sepultados. Em 18 de dezembro de 1923, a Câmara Municipal de Matão, através do ato nº 7/1923, autorizou a Prefeitura Municipal a remover os restos mortais existentes nas sepultura rasas (comum) e transladar para o cemitério atual. Mesmo com tal autorização algumas famílias optaram por não realizar o translado. Por essa razão alguns corpos sepultados em sepulturas comuns, permaneceram definitivamente naquele local. O mesmo ato nº 7 autorizou ainda a Prefeitura a restaurar aquele cemitério e construir muro de tijolos em todo seu perímetro, com a finalidade de voltar a realizar novos sepultamentos de falecidos cujos familiares possuíssem sepulturas perpetuas (pagas) naquele local e também famílias que desejassem adquirir novas sepulturas. (Vale lembrar que essa decisão mostra com grande clareza que a epidemia de varíola que tanto assombrou o município estava sob controle). Porém mesmo com tal iniciativa, não houve interesse dos familiares reutilizarem aquelas sepulturas, portanto não consta naquele período nenhum registro de sepultamento. Sendo assim, o então prefeito municipal Manoel Martins de Castro, sancionou a Lei nº 2 de 02 de maio de 1929, que autorizou o arrasamento total do cemitério velho, publicando antes o edital com prazo de 60 dias para os interessados exumarem e removerem os restos mortais lá existentes, concedendo à esses interessados sepultura gratuita no cemitério atual, sob condição de dentro do prazo de 01 ano a contar da data de exumação, ser construído pela municipalidade túmulo em cada sepultura assim concedida. Importante ressaltar que muitos falecidos foram transladados para outros cemitérios de interesse dos familiares. Apesar de o arrasamento ter ocorrido no ano de 1929, muitos túmulos em ruínas permaneceram no local ate a década de 1960. O antigo cemitério localizava-se onde atualmente é a Avenida Santo Antonio esquina com Alameda da Saudade, pertencente ao Grupo Fischer, Indústria Citrosuco.

 

 

Fontes Utilizadas:

Leite, Azor Silveira. Uma história para Matão, p.15. Matão-SP: IMAG Editora, 1992.

Acto nº07/1923, Camara Municipal de Matão-SP, 18/12/1923.

Lei nº02/1929, 02/05/1929

 

 

Adão Manoel Christino

Administrador do Cemitério

13/09/1993 – presente

Matão-SP, 13 de setembro de 2018.

 

 

 

 

 

Memorial do Antigo Cemitério de Matão

Consta oficialmente como o primeiro falecido registrado no cartório de Registro Civil de Matão e sepultado no extinto cemitério em 09 de setembro de 1897, o imigrante Dade Luige, com 65 anos de idade, italiano e morador da Fazenda São Lourenço de propriedade do Sr. Ângelo Pastore.

No extinto cemitério foram pesquisados oficialmente 953 sepultamentos realizados até o dia 24 de agosto de 1902, quando foi sepultada Maria Barassi. A partir de então todos os sepultamentos passaram a realizar-se no cemitério atual.

Até a década de 60 ainda eram visíveis alguns túmulos esparsos, abandonados e em ruínas, no meio de eucaliptos. O cemitério localizava-se no quadrilátero Alameda da Saudade, Avenida Santo Antonio, Rua Ruy Barbosa até aproximadamente onde é a hoje a Avenida Laert Tarallo Mendes.

Uma minoria dos sepultados no antigo cemitério foi transferida para o novo ao longo dos anos até a sua extinção.

Abaixo um quadro demonstrativo dos sepultamentos realizados conforme a nacionalidade, sexo e idade:

 

Brasil

Imigrantes

Homens

91

100

Mulheres

69

60

Criança "menor" 1 ano

129

278

Criança "maior" 1 ano

108

118

 

 

 

Total

397

556

 

 

 

Total Geral

953

Por ocasião da comemoração do centenário de nosso município foi resgatada a memória de seus primeiros habitantes e fundadores quando foi construído um memorial que encontra-se na entrada do cemitério atual, com placas apresentando o nome de todos os sepultados no antigo cemitério em uma justa homenagem àqueles que procuraram em nossa terra o seu futuro e suas realizações.

Adail Pedro
Advogado e Historiador