Prefeitura Municipal de Matão

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História

Saga da Imigração Japonesa

Em homenagem a colônia japonesa que escolheu como lar nossa comunidade, e que um dia deixou sua pátria mãe, talvez premida pela necessidade, aqui chegaram cheios de esperança, sonhos de prosperidade e em busca de melhores dias, efetuamos levantamento em nossos registros no período de 1911 a 1960.

Houve neste período 905 nascimentos, 20 casamentos e 261 óbitos.

O primeiro nascimento registrado ocorreu na Seção Virgínia, em 12 de junho de 1913, Nisa Yamamoto, sendo seus pais: Koiti Yamamoto e Mussa Yamamoto, casados no Japão avós paternos Asakidi Yamamoto e Yosy Yamamoto; avós maternos Yasaki Maeta e Acame Maeta.

O primeiro casamento ocorreu na Seção Virgínia, em 06 de dezembro de 1922, Araki Takio, nascido no Japão em 01 de janeiro de 1899, filho de Araki Kiziro e Araki Nasabi, e Tudita Sonoe nascida no Japão em 10 de fevereiro de 1900, filha de Yonitaro Tudita e Sigue Tudita.

E o primeiro óbito ocorreu em 19 de outubro de 1913, uma menina com 12 horas de vida. Chamava-se Kana Ogusuko, seus pais foram Ogusuko Guincho e Kana Ogusuko, nasceu e faleceu na Fazenda Boa Vista.

Dos 261 óbitos registrados, 129 eram menores de um ano de idade, e em sua maioria pereceram vítima das doenças mais comum na época, que tinham como motivo principal a desnutrição, a fraqueza e a debilidade, provocadas principalmente pela falta de alimentação do recém nascido. Geralmente quando a mãe tentava suprir esta falta com outro tipo de alimento, quer pelo leite de origem animal, mingaus e outros, os recém nascidos sucumbiam vitima de disenterias, gastroenterites, toxicose alimentar, ou seja, as infecções intestinais.

As dificuldades da época eram muito grandes, com o clima, a língua, as tradições e os hábitos completamente diferentes.

Os primeiros a se fixarem na Companhia, construíram suas próprias casas, de pau a pique, como se dizia, cobertas de sapé, pois se tratava de local inóspito, onde era necessário derrubar a mata para que pudessem morar e iniciar o plantio.

Preferencialmente procuravam se agrupar, não havendo interferências dos contratantes, pois assim o fazendo, evitavam período maior de adaptação, promovendo maior integração entre eles.

Como o meio de locomoção era o trem, de onde vinham procedentes da Hospedaria do Imigrante onde geralmente lá haviam passado por um período de quarentena, ou então quando já previamente contratados por fazendeiros vinham diretamente do Porto de Santos onde desembarcavam, diretamente para seus locais de trabalho.

Contavam somente com a roupa do corpo, e alguns poucos pertences pessoais, o que pudesse ser transportado dentro de toscas malas ou sacos.

Além das casas que precisavam construir, era necessário adaptar o mobiliário que iria guarnecer aquele novo lar, principalmente as camas que eram construídas de madeira e bambu, e seus colchões de fibra de tabôas, planta abundante e característica de mananciais de água cristalina, palha de milho desfiada, ou algum capim que existisse nas imediações.

Também a distância que separava dos vizinhos, estes por sua vez eram imigrantes de outras regiões ou países, era agravada pela dificuldade de locomoção, pois os meios de transporte eram cavalos, carroças, charretes, que nem todo imigrante possuía ou tinha a sua disposição. Geralmente precisavam apelar para o vizinho ou para os administradores, sem contar que as fazendas onde moravam, distavam muito da cidade, para onde iam em busca de maiores recursos que por sua vez também, dependendo da gravidade, pouco podia ser feito, apesar de a fazenda contar com seus médicos que lá residiam: os Doutores Arlindo Aquino de Oliveira, José da Cunha Teixeira e Astiyages Teixeira, que em 15 de julho de 1940, pereceu na fazenda Boa Vista, com 41 anos de idade vítima de pneumonia, doença fatal na época, sendo seu corpo transladado para o cemitério da Consolação, e finalmente a partir de 1940, o Dr.Antonio Luiz Seixas Goes que lá permaneceu até a fazenda ser vendida em 1958 ao Grupo Moreira Salles.

A fazenda também era bem servida de farmácias: na área industrial de Toriba, onde se localizava a fábrica de óleos Cambuhy, na Seção Tamanduá: no ramal de Toriba, e na Fazenda Cambuhy.

Havia também serviços de ambulâncias onde os motoristas, esses heróis anônimos: César de Oliveira, Sebastião Fernandes e Antonio da Silva, ficavam atentos diuturnamente, aguardando qualquer chamada para ser atendida, dado a distância, até o hospital local, e dependendo do grau de gravidade, ou a necessidade tinham que parar pelo caminho para os primeiros socorros, ou invariavelmente realizar inúmeros partos.

Contava também com os préstimos de um cirurgião dentista, que atendia as emergências, nas sedes da fazenda, ou em alguns casos a domicilio, dependendo da gravidade do paciente em pequenos tratamentos, pois o instrumental da época era muito rudimentar. Ficava seu maior atendimento as invariáveis extrações que eram feitas para aliviar a dor do pobre colono, que a essa altura já havia esgotado todo seu repertorio de suposta cura, normalmente já havia recorrido a benzedeiras, chás de água de batata, e outros chás tão empregados pelas famílias, que serviu ao longo da história para cura de muitas moléstias, a medicina caseira, onde se lançava mão das inúmeras ervas que eram abundantes nas propriedades rurais.

Mas alguns pacientes, entre umas e outras desculpas, recorriam ao infalível e sempre bem vindo o miraculoso bochecho de aguardente, que após seu uso sem muito critério, pairava sempre a duvida da sua eficácia, mas pelo menos para o usuário, havia alguns instantes de torpor mesclados de alegria. Esgotados todos os recursos, como último sacrifício recorria-se então ao profissional, que ainda nos dias de hoje apesar da tecnologia e o avanço dos métodos odontológicos, ainda relutam em ir a busca do cirurgião dentista, calcule-se então na época.

A imigração japonesa fincou suas raízes na Companhia Agrícola Fazendas Paulistas, Fazendas do Cambuhy, remanescente da Sesmaria do Cambuhy, que originalmente possuía 31.500 alqueires de terra, em sua maioria matas de primeira qualidade.

Em 1820, D.João VI, rei de Portugal, doou a Sesmaria do Cambuhy ao Coronel Joaquim José de Morais Leme que, por sua herança, a passou para o Conselheiro do Império, Dr.Bernardino Avelino de Gavião Peixoto, que iniciou a formação de fazendas de café.

Após algumas vendas, em 1911, a família Gavião Peixoto, vendeu o remanescente de 23.312,93 alqueires ao Dr. Carlos Leôncio de Magalhães, que deu seqüência na formação de fazendas de café.

Finalmente em 4 de novembro de 1924, o Dr. Magalhães, vendeu a propriedade a Brazilian Warrant, através de sua subsidiária, Companhia Agrícola Fazendas do Cambuhy, pela vultosa importância na época de meio milhão de libras esterlinas, o maior cheque jamais preenchido no Brasil, segundo os jornais da época.

A Brazilian Warrant, teve origem com a chegada ao Brasil em 1820 do inglês Edward Johnston, que fundou em 1842 a E.Johnston & Co.

Durante muitos anos, a Cambuhy fora considerada um modelo de fazenda. E por sua localização previlegiada foi projetada pelos ingleses para ser a sede da Companhia, passando as demais fazendas, a denominar-se por seções para facilitar a localização e controle, pois na sua totalidade era denominada "Fazendas do Cambuhy".

Existia então 22 seções: Alabama, Boa Vista, Curupá, Califórnia, Flórida, Las Palmas, Niagara, Tamanduá, Araruba, Água Sumida, Américo, Córrego Fundo, Contribuição, Fazenda de Criar, Guanabara, Lenheiro, Mato Grosso, Santa Cândida, São João, Teixeira Leite, Toriba e Virginia, algumas dessas seções possuíam a extensão de mais de mil alqueires de terra, por onde eram distribuídos o plantio, tendo como prioridade o nosso café.

Era bem servida por dois ramais de ferrovias, a Estrada de Ferro Araraquarense (E.F.A), que iniciava pela estação Silvânia, anteriormente denominada Santa Josepha, inaugurada em 02 de abril de 1901, Toriba, inaugurada em 08 de janeiro de 1911, Quilometro 11, chamada Teixeira Leite, inaugurada em 20 de novembro de 1911, Cambuhy, inaugurado em 12 de agosto de 1911, Uparoba, inaugurado em 01 de janeiro de 1914, Araruba, inaugurada em 22 de fevereiro de 1929, Curupá, inaugurado em 01 de agosto de 1916, que ficava cerca de três quilômetros da divisa da fazenda, ao todo haviam 38 quilômetros, em leito bastante sinuoso, evitando-se cortes e aterros dado às dificuldades da época de sua construção.

O outro ramal era o da Estrada de Ferro Douradense, que cruzava por quatro quilômetros a seção Alabama. Eram por estes ramais que se escoavam toda produção de café, rumo ao porto de Santos, que de lá se destinava à Europa, e principalmente aos Estados Unidos da América, que até então eram os maiores consumidores do café brasileiro, o nosso ouro verde.

Não existia o meio de transporte por via rodoviária. Até as estações ferroviárias, a produção era transportada por caminhões a gasolina, pois a fazenda era dotada de excelente frota, sendo sua agricultura praticamente 100% mecanizada.

Suas estradas de acesso, apesar de ser em terra batida, eram muito bem cuidadas, abauladas, com pedregulho e galerias para escoamento de águas pluviais.

Sob a profissionalização britânica, plantava-se café, algodão, cereais, cana de açúcar e, a partir de 1924, quando os preços do café subiram assustadoramente nas bolsas internacionais, houve a necessidade de mais mão de obra para o seu cultivo, pois foram implementadas novas áreas com a derrubada das matas e o seu plantio.

Foi a partir daí que houve a entrada de maior contingente de imigrantes, em primeiro lugar a imigração italiana, secundada pela japonesa, seguida por espanhóis, portugueses, alemães e de outros.

Quando deixavam sua pátria, seus laços familiares costumes o objetivo maior destes heróis anônimos, que aqui aportaram, era "Fazer a América" , trabalhavam sonhando sempre em adquirir um pequeno pedaço de terra para ali fincar seus ideais de progresso. Sendo a Fazendas do Cambuhy uma empresa de acionistas estrangeiros que visavam sempre o bom resultado o que seria obvio, pois não iriam arriscar uma fortuna para a época para adquirir a citada área, e sua expansão pois ainda existiam grandes extensões de mata virgem, aguardando serem cultivadas, não vendiam e nem tinham intenções de dispor de qualquer propriedade.

Com o declínio do preço do café, a partir de 1929, culminando com o pior ano em 1931, onde os embarques de Santos estavam praticamente parados, sendo impossível obter linhas de crédito junto aos Bancos devido aos altos riscos dos negócios, os preços haviam caído dramaticamente para cerca de um terço dos praticados dois anos antes, originados por excesso de plantio, acabando por causar uma oferta excessiva, quer no Brasil e no exterior, em paises como a Colômbia e o Quênia, onde também a produção começou a se expandir nos anos entre as duas guerras.

No auge das Fazendas do Cambuhy, a sua produção de café se igualou mundialmente às nações africanas, que até então eram consideradas as grandes concorrentes do Brasil na produção e exportação do café.

Na década de 1940, também teve a primazia de ser a segunda maior produtora de algodão do Brasil.

Para se ter uma idéia da importância das Fazendas do Cambuhy para a cidade de Matão e região, havia no município sede e distritos, 5.000 habitantes, enquanto da Fazenda havia 12.000 habitantes.

Aos finais de semana, o comércio era intenso, pois afluía para a cidade a população das Fazendas, em busca de roupas, aviamentos, sapatos, e outros produtos que não eram por eles produzidos. Os moços e mocinhas vinham também em busca de alguns poucos produtos que pudessem embalar suas comedidas vaidades, tais como pó de arroz, sabonetes, carmim, talcos, para as meninas, e para os meninos um óleo fixador para cabelos, e excepcionalmente uma colônia para pós-barba pois além de poucos recursos, eram vigiados de perto pelos pais, que por sua vez eram muito severos, e tais produtos até então eram considerados supérfluos.

Nos anos 40, nossos imigrantes japoneses, gradativamente foram deixando seus ideais, talvez frustrados por não realizarem seus sonhos da aquisição da terra prometida.

Segundo o Sr. Carlos Vital Olson, originário de Pirassununga, de onde veio com seus pais e irmãos em 1936, que viveu grande parte de sua vida morando e trabalhando na Cambuhy, por mais de 39 anos, morava na colônia de Toriba, de onde avistava os trilhos da estrada de ferro Araraquarense E.F.A, ali presenciou entre os anos 1945 e 1946, a passagem de trens conduzindo as últimas levas de imigrantes japoneses que estavam deixando para sempre a fazenda.

O que lhe marcou profundamente foi um dos comboios, com sua máquina a fogo, como se dizia, alimentado com lenha, e seus seis vagões, dotados de dois vagões de passageiros, dois de cargas diversas e duas gaiolas para transporte de gado e outros animais, conduzindo os imigrantes japoneses, que estavam deixando a fazenda como chegaram anos antes, com a roupa do corpo e alguns pertences pessoais, somente acrescentado com seus filhos que nasceram durante a permanência na fazenda.

Estavam rumando para novas regiões, que se encontravam em expansão, pois ali o governo paulista estava incrementando o desenvolvimento da região, oferecendo aos novos aventureiros melhores condições, como áreas de terras dotadas de matas virgem propicias para nova agricultura, a preços convidativos e longo prazo para pagamentos, sonhos tão acalentados por muitos anos por nossos heróis, a exemplo a região de Marilia, que passou, a partir de 30 de dezembro de 1928, ser servida pela exemplar Companhia Paulista de Estradas de Ferro, que por muitos anos foi o orgulho da população do Estado de São Paulo, e que através da expansão de seus trilhos levou o progresso e também os imigrantes japoneses para novas regiões: Oriente e Pompéia que tiveram suas estações inaugurada em 15 de fevereiro de 1935; Herculandia, Parnaso, inauguradas em 15 de novembro de 1941; Tupã, Universo, Iacri, Parapuã e Oswaldo Cruz, inauguradas em 01 de abril de 1949; Inúbia, Lucélia e Adamantina, inauguradas em 20 de abril de 1950.

Outros, rumaram para a capital do Estado, que apesar de estarmos em plena II Guerra Mundial, e com o fechamento dos portos, principalmente da Europa, havia boa oferta de empregos nas industrias que estavam em crescimento e em busca de criação de novos produtos, procurando suprir as dificuldades com as importações; outros optaram por se estabelecer com vários tipos de comércio, em outras regiões do estado que se encontrava em pleno desenvolvimento.

Agradeço também ao nosso historiador e ombro amigo, Luiz Marques Bueno, onde busquei guarida para minhas dúvidas, e consulta constante em sua obra Memórias da Fazenda, onde magistralmente retratou a historia, os costumes o seu dia a dia das Fazendas do Cambuhy, pois lá nasceu em 27 de março de 1925, conviveu com estes imigrantes por mais de vinte anos, onde praticamente foi responsável pelo pioneirismo nos serviços de agrimensura demarcando as fazendas e estabelecendo suas divisas através da mata virgem, abrindo picadas e enfrentando as dificuldades da época.

Relatou-nos que em sua meninice era entregador de jornais, e os levava principalmente aos imigrantes japoneses, e que estes em sinal de agradecimento lhe ofereciam doces de feijão, até então estranho para nossos costumes, pois estávamos acostumados a consumi-lo nas refeições e salgado.

Quando vinham à cidade fazer as compras de gêneros que não produziam na fazenda, tais como tecidos e seus aviamentos para confecção de seus vestuários, encomendar sapatos para a família, pois a época era muito usado nas fazendas os tradicionais sapatões, que eram de couro, com solado de borracha, que era retirada dos pneus de carro, considerados imprestáveis para o uso.

Por tratar-se de sapatos de grande duração, eram encomendados vários pares para uso da família, sendo usado pelo pai, mãe e filhos, não havendo muita preocupação com suas numeração, pois iam passando dos filhos e filhas mais velhos para os mais novos.

Verificou também, que os demais imigrantes ou por costumes da época, ou dificuldades na aquisição, bem como a comodidade no trabalho, pois era comum principalmente por ocasião da carpa na roça o sapatão se encher de terra, andavam e trabalhavam sempre descalços, colocando os sapatos somente em ocasiões especiais, quando vinham à cidade a passeio, fazer compras, ou para reuniões festivas e religiosas.

Já em sua mocidade indagava aos mesmos de sua religiosidade, pois sempre os via trabalhando aos sábados, domingos e nos dias considerados santificados, pois era costume na época, principalmente nas fazendas, guardá-los.

Estes lhe respondiam que descansariam aos sábados e domingos, dias santos e feriados, quando a roça estivesse limpa e pronta para o plantio.

Era costume ver as mulheres trabalhando na colheita do café e na apanha do algodão com seus filhos recém nascidos amarrados às costas.

Era considerada uma população laboriosa e muito responsável. Eram respeitados e gozavam de ótima reputação com os ingleses.

Conta ainda que apesar de serem em menor número, por sua dedicação e empenho no trabalho, se igualavam em produção em comparação a outras famílias de imigrantes.

Relata um fato lamentável que ocorreu em fins de 1929, pois houve uma epidemia de febre tifóide, que provocou um número maior de mortos, pois os imigrantes japoneses, após a colheita do café, tinham como hábito plantar cereais para consumo próprio e seu excedente era vendido, mas naquele ano houve uma super safra, e ninguém teve interesse em adquirir o excedente.

Como o feijão depois de colhido, secado no terreiro batido e ensacado não tinha muita durabilidade, não suportando longos períodos de armazenamento, a não ser se fosse submetido ao processo das câmaras de expurgo, muito usado na época, que eram caixas construídas de alvenaria, onde era colocado o produto e hermeticamente fechadas, e através de um funil colocava-se formicida em um dos orifícios, que em seguida também eram fechados, permanecendo ali o produto por dias para que ficasse impregnado daquele inseticida, passava a ter então mais durabilidade.

Mas como houve excesso de safra, não havia interesse e nem meios para submeter o feijão àquele procedimento.

Tiveram então que se desfazer daquela carga que lhes parecia promissora, que passou a ser incomoda da melhor maneira possível, passaram então a jogarem nos pastos que ficavam próximos a colônia onde moravam para alimentação do gado.

Como o gado não consumiu o suficiente, e com a chuva e o sol, em menos de 48 horas aquele cereal fermentou, tornando-se uma pasta viscosa, onde o mosquito pousava, e saia espalhando por onde passava a citada epidemia.

Nos dados estatísticos, a seguir, tem se uma idéia na evolução dos óbitos por épocas:

Do ano de 1913 à 1916 - 05 óbitos.
Do ano de 1916 à 1918 - 06 óbitos.
Do ano de 1918 à 1920 - 21 óbitos.
Do ano de 1920 à 1922 - 22 óbitos.
Do ano de 1922 à 1924 - 41 óbitos.
Do ano de 1924 à 1927 - 31 óbitos.
Do ano de 1927 à 1929 - 21 óbitos.
Do ano de 1929 à 1934 - 71 óbitos.
Do ano de 1934 á 1939 - 21 óbitos.
Do ano de 1939 à 1943 - 15 óbitos.
Do ano de 1943 á 1949 - 04 òbitos.
Do ano de 1949 á 1954 - 02 òbitos.
Do ano de 1954 á 1960 - 01 óbito.

Alguns familiares, após o sepultamento de seu ente querido, anos depois procederam à exumação dos seus restos mortais, transladando-os para as cidades onde passaram a residir.

Primeiramente queria ser perdoado pelas famílias, pela colônia, e pela memória daqueles que tiveram seus nomes acima listados de maneira errônea, e com erros de grafia, pois foram transcritos fielmente conforme consta dos registros oficiais.

Como pode ser verificado pelos nomes dos declarantes, praticamente todos os registros foram comunicados por pessoas ligadas as famílias do falecido.

Sendo os nomes japoneses, abrasileirados, o escrivão da época registrava de acordo com o que ouvia e entendia, não havia costume na época a expedição de certidões de óbito, havia somente uma autorização para o sepultamento.

Geralmente a pessoa assinava a página onde era registrado o óbito, sem ter a oportunidade de ler.

Tendo em vista a dificuldade da língua, esbarravam também na má vontade do escrivão, bem como sua caligrafia, pois eram escritas com penas de aço, embebidas em um tinteiro, estando sujeita a borrões, e que depois de escrito não havia possibilidades de se retificar eventuais erros ou falhas do cartorário sob pena de anular a declaração e a certidão. Estavam sujeitos ao rigor do Juiz corregedor dos cartórios que fazia suas vistorias anualmente, e dependendo da sua falta, o cartorário podia perder seu cargo, pois apesar de ser mantido na folha de pagamento das Prefeituras, era atributo do Juiz nomeá-lo ou destituí-lo.

Em alguns casos, os declarantes, por receio de terem dificuldade em assinar com as citadas penas e por conveniência dos escrivães, eram declarados como analfabetos, colhendo-se a assinatura de duas testemunhas, que não estavam presentes ao ato, dias ou semanas depois do ocorrido quando fossem registrar nascimentos, casamentos ou mesmo óbito de outras pessoas.

Nota-se sobremaneira que em sua maioria, os óbitos ocorreram nas dependências da Companhia, seguramente 99% deles, havendo somente alguns declarados em fazendas da região, que não pertenciam aos domínios dos ingleses.

Como era comum, na região e na cidade, a população em geral, e no comercio, a fazenda era conhecida por "Cambuhy e Boa Vista", e quando o declarante se dirigia a cidade, para comunicar ao cartorário, os nascimentos ou óbitos, talvez por comodismo ou procurando facilitar as informações, faziam o registro constando Cambuhy, e Boa Vista, não se preocupando em detalhar o nome da seção.

Espero ter dado minha singela contribuição nos 100 anos de Imigração Japonesa no Brasil a esta colônia laboriosa, que nos legou trabalho, bons exemplos, dedicação, persistência, e acima de tudo patriotismo.

Obrigado por terem escolhido nosso querido Brasil como pátria.

Quero agradecer a todos indistintamente que colaboraram com este pequeno trabalho e tiveram paciência nesses dois anos de pesquisa.

Deixo de citar nomes pois temo omitir algumas pessoas, o que iria sem duvida magoá-las, e que em momento nenhum gostaria que acontecesse, queria sim que todos compartilhassem com minha satisfação e alegria, por ter conseguido resgatar o nome dessas 261 pessoas até então anônimas, que de agora em diante serão lembradas, e terão seus nomes gravados na historia de nossa querida Terra da Saudade.

Quero dedicar este trabalho ao meu querido pai, que desde a primeira hora de minha vida, só me legou bons exemplos de vida, honestidade e retidão, principalmente de amor ao próximo.

Todo ano, por ocasião do dia de finados, quando prestamos nossas homenagens aos nossos entes queridos, munido de latas de tintas e pincéis, meu pai saia em busca das lápides abandonadas em nosso cemitério local e que tiveram com o passar dos anos, devido à ação do tempo, seus nomes esmaecidos. Fazia questão de repintá-las para que todos fossem lembrados e jamais esquecidos.

 

Terra da Saudade, 06 de agosto de 2005.

 

100 anos de Imigração Japonesa no Brasil.

ADAIL PEDRO, brasileiro, casado, advogado, nascido na cidade de Matão, Estado de São Paulo em 22/04/1941, residente e domiciliado na avenida Gregório Perches de Meneses, 795, Nova Matão e com escritório profissional na avenida Siqueira Campos, 983, Centro, Matão-SP, telefone (16) 3382-4011, e-mail: [email protected]